Jacarepaguá: Quatro mil jacarés tentam conviver com o crescimento desordenado
segunda-feira, 15 de abril de 2013Alunos e professores se surpreenderam na semana passada com um jacaré-do-papo-amarelo, de cerca de 1,5 metro, encontrado por um funcionário na piscina do tradicional colégio Saint John, no bairro da Barra da Tijuca. Devolvido à natureza por bombeiros, o inusitado ‘visitante’, que fez a festa da criançada, chama a atenção para um fenômeno que se torna frequente naquela região: a presença desses répteis nas ruas e próximos a moradias.
De acordo com especialistas, estima-se que só no Complexo Lagunar de Jacarepaguá (de 280 km², composto pelas lagoas da Tijuca, Camorim, Jacarepaguá e Marapendi), existam pelo menos 4 mil animais dessa espécie. Em contrapartida, a população no entorno desse paraíso crocodiliano foi a que mais cresceu no Rio nos últimos 15 anos, com mais de 400 mil habitantes e centenas de novos empreendimentos imobiliários.
“A redução de habitats naturais e a constante chegada de jacarés, capturados em diversas partes do estado, ao Parque Chico Mendes, aumentam suas presenças em áreas urbanas. Os papo-amarelos não estão aumentando em número de indivíduos, pois 75% deles são machos. Só estão ficando mais agrupados devido à perda de ambientes naturais”, explica o biólogo Ricardo Freitas Filho, um dos maiores entendidos em comportamento animal do Brasil.
INTERAÇÃO OU AGRESSÃO?
De acordo com Ricardo, moradores e turistas contribuem para a aproximação dos jacarés. “Da janela do meu apartamento, eu os contemplo tomando sol à beira da rua (às margens do Canal das Tachas, no Recreio). Infelizmente, muitas pessoas param para tirar fotos, dar comida e até agredi-los com paus e pedras”, lamenta Almerinda Machado, 78, que mora na Rua Professor Hermes de Lima, onde alguns animais já foram atropelados. Na quinta, curiosos tiravam fotos e a paz de um grupo de jacarés na mesma rua.
“Essa espécie só é agressiva quando atacada, não enxerga o ser humano como alimento. Adaptada à pesada poluição dos mananciais da região, esses remanescentes dos dinossauros passaram por catástrofes globais com extinções em massa e continuam aqui. Devemos dividir o planeta com eles de forma harmoniosa”, aconselha Marcus Silveira, outro biólogo, especialista em gestão ambiental. “Tirei fotos (com celular) para meu filho”, comentou o motorista Jean Miranda, 43, depois de jogar pedras num jacaré para fazê-lo movimentar, na beira do Canal das Tachas.
A grande quantidade de jacarés nas lagoas da Zona Oeste não passou despercebida nem mesmo pelas câmeras do Street View, que disponibiliza no Google Maps imagens das ruas. Em várias delas, no Recreio e Barra, aparecem os répteis às margens das vias. Segundo estudos coordenados pelo biólogo Ricardo Freitas Filho, basta um olhar atento para os canais da região para percebê-los. “No Canal das Tachas há jacarés grandes. O maior que capturamos chegou a 2,70 m e 90 kg”, diz Ricardo, que coordena grupo de pesquisadores que já capturou e cadastrou mais de 400 jacarés na região.
Lição de respeito nas escolas no bairro de Jacarepaguá
Para tentar tornar a convivência entre moradores e jacarés mais amena, o biólogo Ricardo Freitas Filho e um grupo de pesquisadores criaram em 2006 o Instituto Jacaré. Não se trata de uma ONG, mas apenas um grupo de voluntários de iniciação científica que realiza pesquisas e monitoramento dos répteis na região. Eles também criaram o projeto ‘Jacaré Vai à Escola’.
“Para incentivar as crianças a perderem o medo de animais silvestres e aprenderem com eles, nós visitamos colégios, levando exemplares reais dos répteis. Os estudantes são a melhor forma de dar recado de preservação aos pais e à comunidade”, avalia Ricardo, ressaltando também que o instituto dá cursos de campo, onde os interessados aprendem a manejar os jacarés nas lagoa.
Embora não esteja na lista dos bichos mais ameaçados de extinção, a população de jacarés-do-papo-amarelo do Rio correrá sérios riscos no futuro. “O crescimento desordenado no entorno de seu habitat e seus impactos ambientais negativos são ameaças a esses e outros bichos”, adverte Ricardo.
Fonte: O Dia
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